domingo, 27 de setembro de 2015

Escrever, publicar e aceitar

Faz muito tempo que não posto nada aqui, então decidi escrever sobre algo que ando fazendo ultimamente: divulgando meu livro.

Quando comecei a escrever a Saga Linear, mal sabia o que encontraria pela frente. Meu foco sempre foi na história. Nos personagens, na trama e nas consequências que cada ato teria adiante. Por mais que eu tenha me preparado para criar uma história com uma estrutura complexa e longa, eu não sabia se estava fazendo algo que agradaria a meus futuros leitores. Vou me explicar melhor.

Você passa anos com uma ideia na cabeça, mas não faz nada sobre isso. Daí você começa a colocar tudo no papel e vê o quanto é realmente complicado. Porque na sua cabeça as coisas funcionam bem melhores do que na vida real. Mas aí, eu fui dando formas a essa história, escrevendo eventos do passado, criando características para os personagens e traçando sua trajetória. Além disso tudo, tem a questão da narrativa, das referências em camadas e em níveis dos mais óbvios aos mais obscuros.

Tudo isso no formato de um romance com gêneros que são tão amplos que eu acabo me esquecendo de um ou outro: mistério, aventura, romance, ficção científica, ação, terror. Sem contar que, esse é o primeiro livro que eu escrevo na vida. Eu já escrevi muito nessa vida, principalmente desde que conheci a internet em 1999. Já escrevi em sites, blogs, revistas e até em boletim de grêmio recreativo de uma empresa em que trabalhei. Sei que jornalismo nunca foi minha praia, por isso me formei em letras, sem saber muito bem o que eu iria fazer na vida futuramente. Letras não é bem um tipo de curso indicado para quem quer ser escritor, mas isso já é assunto para outro texto quilométrico.

A questão é que, você pode ter todo esse trabalho e no fim das contas criar algo que ninguém gosta. Especialmente se você escreveu algo pensando apenas no seu próprio gosto. Não existe nada de errado nisso, mas tenha em mente que você só irá agradar a pessoas que vão conseguir te entender. E é exatamente aqui que continua o questionamento que fiz no segundo parágrafo: quem vai gostar do que eu escrevi?

A melhor forma de saber isso é simplesmente perguntando as pessoas. Mas antes de fazer isso, você tem definir outras coisas: quem é seu público? Eu escolhi o público chamado "jovem adulto" (ou YA - young adults) que nos EUA é um dos maiores filões do mercado literário, e que aqui no Brasil ainda não tem uma definição oficial, apesar de também ser muito importante. Algumas editoras os chamam de infanto-juvenil (o que me fez encontrar Jogos Vorazes nessa sessão de uma grande livraria em SP) uma denominação que não consegue definir de forma clara esse público. O YA americano se foca nas idades entre 14 e 21 anos, ou seja, abrange grande parte do publico adolescente e uma parte do chamado "publico adulto". Então, resumindo, eu escrevi pensando nesse público, nos jovens de todos os gêneros e classes que tem entre 14 e 21 anos. É claro que pessoas mais velhas e até mais jovens irão consumir esse tipo de livro, mas não se esqueça de seu foco. Esse foi o meu.

No Brasil cerca de 50% dos livros mais vendidos de 2014 eram voltados para o público YA. Não é esse o motivo de eu ter escolhido esse público, mas sim porque foi assim que minha história surgiu, com um perfil de YA. E porque também gosto muito de escrever para esse público, o que é bastante gratificante para mim. Quando os jovens gostam de algo, eles são bastante diretos sobre isso e quando não gostam também. Por isso que ao buscar a opinião de quem leu meu livro, eu me preocupei em avaliar 2 coisas: 1) essa pessoa faz parte do meu público alvo? e 2) a opinião dela reflete essa questão?

Pois meu processo foi esse: Trabalhei anos numa história; a transformei em um livro que é apenas o primeiro de uma série que terá pelo menos 3; pedi a opinião de 2 pessoas próximas para me dizerem  que acharam; as duas pessoas adoraram, mas deram pouco retorno; então eu publiquei o livro - de forma gratuita para facilitar a divulgação da série e para obter mais opiniões sobre ela. E eu recebi e ainda recebo essas opiniões.

No próximo dia 2 de outubro fará 1 ano que "A Trilha" foi lançado. Mais trabalhoso que escreve-lo foi convencer outras pessoas que valeria a pena dar a uma chance a ele, e lê-lo. Porque ao mesmo tempo que eu acredito no potencial da minha história, eu também sei que ela pode ter os seus problemas, ser mal compreendida ou simplesmente desagradar. Seres humanos são imprevisíveis e saber o que eles vão gostar ou não é algo tão imprevisível quanto nossa própria natureza. E eu tenho bastante ciência disso.

E por isso mesmo eu tenho bastante cuidado ao ler resenhas e comentários em geral sobre o livro. E sei que muitos autores já surtaram com a opinião que emitiram sobre sua obra. Tanto que alguns blogs evitam resenhar livros recebidos de escritores independentes, pois vários maus entendidos já aconteceram. É complicado dizer quem está certo ou errado nesses casos, o que posso dizer de minha parte é que eu tento manter o meu bom senso ao ler uma crítica, sem nunca me esquecer daqueles 2 pontos que eu citei. Eu posso dizer que até o momento fui bem recebida pela grande maioria das pessoas que decidiram ler meu livro.

Mas ainda acho que tenho poucas opiniões e quero ir mais longe, por isso não deixo de trabalhar todos os dias na divulgação dessa série. Minhas atuais condições não me permitem pagar por uma divulgação mais eficiente (fiz algumas campanhas nesse sentido, mas o retorno não foi tão bom quanto o esperado) e muito menos contratar uma pessoa ou uma empresa para cuidar disso.

Infelizmente não foi assim desde o começo, por conta de outras obrigações e de trabalho que de fato me remunera financeiramente, acabei deixando o trabalho de divulgação de lado e o livro ficou um pouco esquecido. Mas estou revertendo esse quadro criando mais contatos e trabalhando no segundo livro, que deve ficar pronto em dezembro.

O que eu queria concluir de toda essa reflexão é que lançar um livro é um processo longo e cansativo, que pode ser bastante positivo se você souber aproveitar as oportunidades e saber como lidar com os imprevistos. As opiniões que recebo me ajudam a melhorar minha escrita e também a perceber que muitas das intenções que criei dentro da história estão sendo notadas pelos leitores. Alguns ainda não entenderam bem do que a jornada de Alexis Vienna (minha personagem principal) se trata, e minha vontade é de poder dizer que certas coisas são intencionais e que existe um motivo para tudo. Mas como autora eu não preciso dizer isso. Aliás, nem devo, pois sei que os próximos livros falarão por mim. E realmente espero que eles entendam.